Na matéria apresentada na seção Mundo do Eletricista desta edição da Revista Potência, é abordada a falta de regulamentação da atividade de eletricista no Brasil, o que torna esse trabalho uma “ocupação” e não uma “profissão”.
Como o espaço naquela seção da revista é restrito, continuo aqui a reflexão sobre o tema, com uma abordagem comparativa entre as realidades vividas pelos eletricistas que atuam abaixo e acima da linha do equador.
Apenas para exemplificar o que ainda poderia ser feito pela atividade no Brasil, vejamos, muito resumidamente, como são os processos de formação, licenciamento e atuação dos eletricistas nos estados Unidos. Talvez possamos nos inspirar um pouco nessa prática, além de outras também interessantes que existem em outros países.
Em suma, a atuação de uma pessoa como eletricista nos Estados Unidos é tratada com a devida seriedade que a função merece, tendo em vista os riscos envolvidos nessa atividade, tanto para o profissional quanto para os usuários e proprietários das instalações elétricas.
De forma geral, naquele país, um candidato a se tornar eletricista deve ter diploma do ensino médio ou equivalente, idade mínima de 18 anos, precisa estar fisicamente apto, ter bom equilíbrio, coordenação motora e visão das cores. Pode solicitar sua inscrição para se tornar aprendiz através de diversos “patrocinadores”, que incluem sindicatos, organizações e associações nacionais ou estaduais.
O patrocinador analisa as notas do aluno no segundo grau, os resultados de testes de aptidão e as experiências de trabalho prévias antes de admiti-lo no programa de formação de aprendizes. Os aprendizes também fazem uma entrevista para esse programa, que é um processo semelhante ao de ser contratado para um emprego.
A maioria dos cursos de aprendizes de eletricistas tem a duração de quatro anos e os alunos recebem, pelo menos, 200 horas de instrução em sala de aula por ano sobre princípios de segurança, circuitos elétricos, normalização, leitura de projeto, técnicas de instalação em geral, etc. Além da sala de aula, durante o ano os aprendizes devem ter, no mínimo, 2.000 horas de treinamentos práticos no campo (8.000 horas durante o curso) sob a supervisão de eletricistas experientes.
O aprendiz é remunerado durante todo o curso pelos patrocinadores, em um pro- cesso similar à remuneração de estagiários no Brasil.
Uma vez concluído o curso de aprendiz, o agora recém-promovido “eletricista iniciante” deve obter a licença para trabalhar na área. O licenciamento é necessário para eletricistas em quase todos os estados americanos e é válido apenas no estado em que foi obtido. Dessa forma, caso o eletricista queira exercer suas atividades em diferentes estados terá que obter a licença em cada um deles.
Os requisitos para obtenção do licenciamento geralmente incluem a comprovação de um determinado número de horas de sala de aula e atividades práticas, além da realização de um exame escrito.
A fim de manter o licenciamento, a maioria dos estados exige a comprovação de um número mínimo de horas de cursos de educação continuada a cada ano, bem como periodicamente o profissional deve passar por outro exame.
Em alguns estados, um eletricista deve completar um programa de bacharel em engenharia elétrica e comprovar experiência de trabalho significativa antes de ganhar uma licença como “mestre-eletricista”.
As licenças são comumente classificadas por tipo de trabalho elétrico e/ou por nível de experiência, tal como iniciante, assistente, mestre-eletricista, etc.
Há diversas associações e entidades que oferecem cursos e treinamentos que resultam em certificações profissionais, as quais demonstram conhecimento e habilidade acumulados de um eletricista, aumentando assim as oportunidades de emprego e progresso na carreira.
Terminada esta breve apresentação, fica a sugestão para que façamos a comparação entre a formação de um eletricista nos Estados Unidos e a de um eletricista no Brasil. Pode ser uma boa oportunidade para uma reflexão profunda sobre o tema.
Uma cuidadosa qualificação profissional dos eletricistas, seja nos estados Unidos, no Brasil ou nos anéis de Saturno terá um impacto direto, sem escalas, na segurança das instalações elétricas, das pessoas e do patrimônio.
Por aqui, na terra Brasilis, a má notícia é que temos muito ainda por fazer na qualificação técnica e no reconhecimento dos eletricistas como profissão. Por outro lado, a boa notícia é que podemos e devemos fazer ainda muita coisa. portanto, mãos à obra (com luvas isolantes)!
Fonte: http://www.eletricistaconsciente.com.br